23 Fevereiro 2022
"Amarga constatação" de Francisco no Angelus. Sintonia com o Patriarca Bartolomeu I.
A reportagem é de Gianni Cardinale, publicada por Avvenire, 22-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Como é triste quando pessoas e povos orgulhosos de serem cristãos veem os outros como inimigos e pensam em travar guerras!". Esta foi a última tentativa do Papa Francisco para tentar evitar os ventos de guerra que sopram na Ucrânia. Fez isso no domingo, no Angelus, com uma "amarga constatação", escreveu o Osservatore Romano, inspirado na passagem evangélica do dia centrada no conhecido convite de Jesus de "oferecer a outra face".
Nas últimas semanas, o sucessor de Pedro levantou a voz várias vezes para implorar a paz. Em 18 de fevereiro, falando ao plenário da Congregação para as Igrejas Orientais, denunciou os "ventos ameaçadores que ainda sopram nas estepes da Europa Oriental, acendendo os estopins e os fogos das armas e deixando gélidos os corações dos pobres e dos inocentes".
“A humanidade, que se orgulha de avançar na ciência, no pensamento, em muitas coisas belas - acrescentou -, retrocede quando se trata de tecer a paz. É campeã na guerra. E isso deixa-nos todos envergonhados”. "A guerra é uma loucura!", suspirou na audiência geral 9 de fevereiro, agradecendo a "todas as pessoas e comunidades" que no dia 26 de janeiro anterior "se uniram à oração pela paz na Ucrânia", que ele convocou. Nas palavras do Papa, como naquelas dirigidas pelo Cardeal Secretário de Estado Pietro Parolin em um telefonema ao chefe da Igreja grego-católica ucraniana, Arcebispo Sviatoslav Schevchuk, há proximidade com o povo ucraniano, mas não há palavras de condenação preventiva em relação à Rússia.
Às palavras comovidas do Papa Francisco para a Ucrânia se juntaram aquelas do Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, que citando "o amado irmão Francisco", durante a divina liturgia celebrada em Istambul em 13 de fevereiro, reiterou que "a guerra é uma loucura". "Acreditamos firmemente - continuou - que não há outra solução possível para preservar a paz se não o diálogo".
Sobre a crise ucraniana, portanto, falaram as Igrejas de Roma e Constantinopla. E até aquela de Moscou se manifestou. Em 19 de fevereiro, no canal Rússia-24, o 'ministro das Relações Exteriores' do Patriarca Kirill, Metropolita Hilarion, disse que a Igreja ortodoxa russa continua a rezar pela paz no Donbass e na Ucrânia e espera que tudo possa ser resolvido através do diálogo. Há dois dias, também o próprio Kirill, embora sem fazer referência explícita à crise ucraniana, lembrou em sua homilia dominical que em todos os conflitos, mesmo entre países, o amor é mais importante que a justiça. O patriarca não mencionou o Papa Francisco, mas de qualquer forma estão em andamento tratativas para um novo encontro - este ano - entre os dois, após o primeiro em Cuba em 2016.
Esses apelos não significam, no entanto, que em Moscou não tenha acontecido a tradicional "sinfonia" entre Igreja Ortodoxa e Kremlin. Em 2 de fevereiro, Hilarion foi condecorado com a Ordem de Aleksandr Nevskij "por sua grande contribuição para o desenvolvimento da colaboração internacional e inter-religiosa". Na ocasião, o metropolita agradeceu ao presidente Vladimir Putin "pelo apoio que presta aos cristãos perseguidos em todo o mundo". De fato, "graças ao exército russo, os terroristas foram expulsos da Síria". Mas "em vários outros países do Oriente Médio, onde os cristãos são atacados por terroristas e grupos radicais, eles ainda precisam da proteção e da ajuda da Rússia". "A África - continuou Hilarion - hoje precisa de uma atenção especial". Com efeito, "em alguns estados deste continente estão acontecendo perseguições em grande escala contra os cristãos". Assim, os crentes da África "olham com esperança para a Rússia e seu Presidente, para a Igreja russa e seu Patriarca". E “saem às ruas com faixas: Obrigado Putin, obrigado Patriarca Kirill'”.
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O Papa: uma triste guerra entre cristãos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU